Mosquitos mutantes são a nova arma para combater a dengue
O sucesso do projeto piloto atraiu a atenção da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), que investiu R$ 1,7 milhão na iniciativa
O reino animal está cheio de “meninas más”. A fêmea do louva-a-deus devora a cabeça do macho depois de acasalar. O macho da viúva negra vira um nutritivo petisco para sua aranha, depois de morrer ao ter seu órgão sexual quebrado no corpo da fêmea. A vingança dos machos, mesmo que involuntária, veio de uma variedade do mosquito Aedes Aegypti, transmissor do vírus da dengue.
Cerca de 5 mil mosquistos mutantes são soltos Itaberaba, mas eles não picam
Desde fevereiro de 2011, a biofábrica Moscamed produz em Juazeiro, com uma tecnologia desenvolvida pela empresa inglesa Oxitec, mosquitos machos que, soltos para cruzarem com fêmeas da natureza, geram descendentes que não conseguem sobreviver. Nesse período, a estratégia conseguiu reduzir, em média, 85% da população do Aedes Aegypti em Itaberaba, bairro juazeirense onde o projeto foi testado.
Como eles são idênticos aos mosquitos selvagens, atraem as fêmeas normalmente. A diferença está em um gene, introduzido nos embriões gerados nos laboratórios da Moscamed, conforme explica o doutor em genética Aldo Malavasi, professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos coordenadores do Projeto Aedes Transgênico (PAT).
“É um gene que faz com que, para que o mosquito complete o desenvolvimento larvário, seja necessária a presença de tetraciclina”, detalha Malavasi. Como a substância, um antibiótico produzido a partir de bactérias Streptomyces, não está disponível na natureza, o inseto morre ainda na fase larvária – etapa que é combatida, nas campanhas contra a dengue, com a eliminação de fontes de água parada e limpa.
“Os machos criados em laboratório sobrevivem porque acrescentamos tetraciclina na água onde eles são cultivados”, descreve. Também é introduzido no vírus um marcador genético fluorescente, que identifica as larvas transgênicas. “Quando o ministro viu, ele disse: ‘Que bonito’”, conta Malavasi, referindo-se ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
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